terça-feira, 29 de abril de 2008

"MINHA ESTRELA"

- Pai, me dá uma estrela? Eu quero uma estrela pra mim.
O céu estava estrelado, limpo sem nuvem nenhuma e uma temperatura bem amena. Eu a levava embora, depois de um dia de pura felicidade e muitas brincadeiras. Por causa do "bico" que arrumei com meu amigo da papelaria, quase não tive tempo com ela. Com seus três anos de idade, e uma inteligência fora do normal, ainda arrumamos tempo para uma brincadeira de compras com cartão na minha hora do almoço. Eu consegui fazer uma compra de quatro mil reais pela primeira vez na vida, na loja onde ela falava que era a vendedora, passando meus cartões de crédito que não alcançam nem trezentos reais de limite. Tudo muito simples, inacreditável se na vida real fosse asism mesmo. Uma inocência admirável, para quem a conhece.
Não consigo ficar com ela muito tempo, mas cada minuto que tenho ao seu lado aproveito como se fosse o último. Valorizando suas idéias, dando atenção aos seus comentários e participando de suas traquinagens, demonstrando sempre uma enorme surpresa pelas suas ações, como se nunca tivesse acontecido. Demonstrando ter a mesma idade dela, seu envolvimento é maior. A distância que vivemos a deixa sempre meio receosa pela minha presença de pai. Ela sempre quer me mostrar mais respeito do que realmete mereço. E quando brinco com ela, vejo que sua liberdade se aflora por estar ali comigo. Ela se sente segura.
Quando ela me disse que queria uma estrela, eu brinquei: "- Eu já tenho uma".
- Cadê pai? Onde você guardou?
- Ha você não sabe?
- Não pai. Onde tá?
- É você minha estrelinha.
- Pai você é doido? A estrela fica lá no céu.
- Eu sei, mas você é minha estrelinha. Você é minha maravilhosa.
- Não sou estrela pai!
- É sim!
- Não!!
- É!
- Não!!!
- É sim, é sim...
- Tá bom pai.
Realmente ser chato é uma qualidade que tenho. Ouço muito isso dos amigos, mas naquele momento ela também percebeu. Seu silêncio foi instantâneo, como se tivesse percebido que o pai era mais criança que ela. Ela olhou novamente pro céu, disfarçava sua vontade de falar mais uma vez que não era estrela, mas sentia alguma coisa que por ser o "Pai' que falava aquilo poderia ser verdade. Foi então que perguntei: "- E você? Não tem nenhuma estrela?" Sem saber o masculino de estrela, ela respondeu rapidamente:
- Você pai. Você é minha "estrelainho".
Ser pai é maravilhoso.



texto de
Fernando Thadeu Fonseca dos Santos