quarta-feira, 31 de outubro de 2007

LUZ DO SENTIMENTO NU

O climax de um sentimento se demonstra na hora de um choro. Quando crianças, ouvimos dizer que é feio. "Que feio um menino tão bonito chorando!" Mas deve ser porque o choro na maioria das vezes, é sempre de dor aprontada. Alguma batida, ralada, cintada. Abrimos aquele bocão de mostrar todos os dentes e cáries possíveis. Mas e quando crescemos? Não nos machucamos mais como antes, nem apanhamos mais, por tamanhas traquinagens que literalmente aumentaram de tamanho assim como nós. Mas choramos.
Choramos por não dar certo, por não ser correspondido, por não significar muito, nem mais. Choramos. Esse choro é sempre por algo que realmente nos significa muito. Ele pode ser afetivo, relacionado a família, ou a amigos muito próximos que perdemos. Quando nos mudamos, ou se mudam para longe de nós. Pode ser de alegria, de alguma conquista ou felicidade alcançada. É sempre muito forte o sentimento de vitória, esse limite acaba nos levando ao choro também. Mas pode ser também de "amor". De um sentimento mais intenso, mais verdadeiro. Não querendo dizer que os outros são falsos, mas é muito mais soberano que os demais. É um sentimento forte, de deixar cego a qualquer um, de deixar sem sentido, ou de perder os sentidos. Sentidos pra quê? Eu quero é amar! Mas e quando acaba? Carinho, gosto, beijo, conversa, olhares, falta, desejo....ficam as lembranças. E quando nos vemos sozinhos, ou quando nos deparamos com particulariedades que nos fazem lembrar essa relação, como uma música, um perfume, um simples gesto, ou uma fala, lugar ou situação. Alguma coisa lá no meio do coração (pois se não fosse exatamente no núcleo, não sei o que aconteceria) pede arrego. Sente falta, busca o passado e nos abre os arquivos de nossas mentes. Arquivos concretos, que não foram destruídos por completo. Foram só partidos, não esmiuçados. Então se tem muito guardado. E quando tudo isso reaparece, nos faz chorar. Chorar de saudade, de que tudo aquilo podia ter dado certo. Mas não lembra o choro como de um amigo que se mudou? Ou de um parente que partiu? Não! É um choro diferente. De alguém que realmente marcou na sua vida. Que você não conseguiu esquecer. De tão bom e apaixonante foi estar do lado dela. Viver sem limites, mesmo sabendo que acabou, mas que foi intenso e verdadeiro.
Chorar não é vergonha, só porque não somos mais crianças. Porque só as crianças podem chorar? Cada um chora do jeito que quer, e da vontade que der. Uns choram de mais, por marcar de mais. Outros choram de menos por não saber se entregar. Quem chora pode dizer que existe clarões de "sentimentos verdadeiros". Tão fortes que nos deixam assim, sensíveis ao ponto de chegar a esse apogeu da sinceridade interior. Chorar é bom.



texto de Fernando Thadeu Fonseca dos Santos

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Passa ou não passa

Passa da passagem, passa paisagem, passa o meu medo, passa o sossêgo, passa nas alturas, o que era teu aconchêgo, passa nas canelas, passa no Sertão, passa da realidade ou da solidão. Passa mais, passa longe, mas nos passa, passa de nós, é sempre um, que está contente, e o outro que sempre chora, num só passo, sem parar a passação, e um passa bem. O outro passa mal. Passa a festa, passa o sono, vem a leveza, e o fim da alegria, passando amigos, prefiro contigo. Não se passam amigos, passa o fio, passa a rua, passa a roupa, e passa o sol, e na lua lembro teu cheiro sem vontade de passar, mas passa, para não parar, e parado fica minha vontade de passar. Passa bala, passa chiclete, que não passa sem grudar, passa isso e passa aquilo, e me paro num passar, sempre com vontade de sair, deste passo sem parar, que me afoga e me percegue, esse passo de pezar, mas não passa toda essa, minha vontade de te amar.


texto de Fernando Thadeu Fonseca dos Santos

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A ENTREVISTA

Sinto um calor, não estou nervoso, estranho mas sempre fico calmo nestas ocasiões. Mas parece que estou derretendo, também vim correndo. Andando rápido pra ser mais exato, estava atrasado, e mesmo assim não perdi a calma. Ainda perdi alguns minutos no elevador, a ascensorista estava de papo com o segurança, logo na minha vez ela resolveu namorar. Acabei chegando suado, mas cheguei.
Logo entrei, sem reparar muito na sala, entrei mostrando serenidade, sem vacilar nos passos, e nem olhei muito na sala. Só reparei que estava cheia, algumas pessoas me olharam, não me prendi muito. Se tinha algum conhecido, eu poderia comprimentar depois. Meu objetivo agora era chegar até a secretária sem causar nenhum estardalhaço. Já pensou eu chegar caindo, ou mesmo olhando alguma perna bonita de alguma mulher que estava fazendo ficha. E quando a secretária me desse bom dia, eu estava perdido, perguntando "O quê?".
Minha chegada foi perfeita, muito obrigado. O bom dia não foi dos melhores, mas o da secretária foi alguns milímetros mais fulero do que o meu. Também imagino eu quantos bom dias ela já tinha pronunciado, sem nem mesmo olhar no rosto das pessoas, ou nem ser correspondida, deve ser chato ser secretária. E olha que tem gente que faz faculdade disso heim!
Tudo bem, depois de me receber, com um bom dia mais parecendo "mau dia", ela fez as três perguntas de praxe : "qual o cargo pretendido?, seu último salário? e qual sua pretensão salarial?". Eu vim aqui fazer uma entrevista. E logo tentei me recordar do nome da moça que me ligou, não queria buscar o papelzinho que tinha no bolso da calça o nome e o endereço do local. Já dei uma gaguejada e logo ela me tomou a palavra. Fiquei com a "pretensão salarial" na cabeça,
não é possível, mas essa palavra eu só ouço nas agências de emprego, "pretensão salarial", me lembra algum tipo de salada que não vingou, ou coisa parecida. Acabada as formalidades com a secretária, ela me entrega um formulário médio, nem pequeno nem grande, mas médio. Um formulário quando pequeno já enche o saco, um grande então !!! Esse era médio. Nome, rua, cidade, país, cor, partido, tipo de sangue, música preferida, essas coisas. Mais uma enchurrada de perguntas. Tem carro? Sim, mas se não arrumar emprego hoje, vou ter de vende-lo. Será que vou perder chances por causa disso? Espero que não. Já estou no meio do cadastramento, e me recordo que saí de casa para ir á uma entrevista. Em menos de dez minutos e lá estava eu quase cadastrado na agência.Mais alguns minutos se passam e chego na área dos não fumantes, não sou nem besta de falar que fumo, o cerco está fechando pra quem quer morrer devagarinho. Agora já na área onde escolho em que região prefiro trabalhar, zona norte, zona sul, zona oeste, zona leste, ufah! Zona leste é complicado, mas estou aceitando qualquer zona que tenha emprego pra mim. Já estou desesperado, por dentro, mas mantenho a calma por fora, sou um bom artísta. Acabo de entrar em uma zona incógnita, já não sei se explodo de vez e xingo todo mundo. Afinal eu não fui chamado pra fazer uma entrevista? Desempregado sofre! Esse cadastro não acaba mais. Da próxima vez que me contatarem vou perguntar antes de desligar o telefone feliz de conseguir mais uma oportunidade de emprego, do que realmente se trata.


texto de Fernando Thadeu Fonseca dos Santos